Estamos em Londres. Tem estado relativamente bom tempo (é Londres!), portanto temos estado felizes! Ja vimos a Torre de Londres, fomos ao Tate Modern, fizemos o passeio pela beira do Thames, infiltrámo-nos em Piccadilly Circus, Covent Garden – fazer compras é aqui! – e hoje à noite fomos ao musical do The Lion King – muito muito giro, adorámos, o palco girava, subia e descia, abria-se, cuspia fumo, enfim, uma produção genial!

Parece que passou um milhão de anos desde que tudo começou, tenho um medo absurdo de poder vir a esquecer-me de algumas coisas que aprendi nestes dias de viagem tão intensos. Onde vai já aquele comboio de Mostar, como é possivel explicar como ficamos arrepiados com a história de Sarajevo, com as recordações de Auschwitz, com a serenidade agitada de Viena, a beleza silenciosa de Budapeste, a tradicional Cracóvia, a multicentral Berlim, a amorosa Amsterdão e, agora, a multicultural Londres?

Tenho o privilégio de poder dizer que me sinto mais consciente do mundo e do quanto quer fazer parte de cada cantinho. Não tenho medo de criar novos projectos (talvez utópicos) porque é isso que nos faz sonhar e ir em frente.

De Sarajevo trouxe um cd de música sérvia que um rapaz me deu – uma contradição que me fez reflectir; no meio do ódio há sempre uma reconciliação.

Em Budapeste senti uma cidade bonita que deixou ainda algumas coisas para ver, que faz jus ao nome de “pérola da Europa” embora tenha sofrido tanto na II Guerra.

De Auschwitz trouxe anseios que não são meus, recordações que não me pertencem, mas que é preciso conhecer de perto para os sentir.

Em Cracóvia reconheci uma praça medieval com toques bem vindos de modernidade.

Berlim mostrou-me que é possível viver em segurança numa cidade ainda um tudo ou nada dividida (embora não me tenha convencido totalmente).

Em Amsterdão pedalei com chuva-molha-parvos e não me importei, passeei no Red Light District com algum receio (infundado) e desejei muito a minha bicicleta amarela! Era possível sentir-me bem aqui.

Londres mostra-me que não há lugar para diferenças se o mundo pode estar enfiado todo numa mesma boa cidade. No final de tantos países em que aprendi as consequências de tantas guerras, sabe bem sentir que há, realmente, sempre uma hipótese.

Adorei o meu inter-rail!

Ainda mais agora… olhando depois de já estar bem digerido, valeu sem dúvida a pena 🙂

Obrigado Mirk e Sinjo pelos óptimos momentos proporcionados, a sério! =)

E termino o post  com algumas imagens perdidas da minha máquina. Não têm a qualidade das da máquina do Miguel e mesmo sendo menos abrangentes, são simbólicas!

Um grande beijinho pra vocês e uma óptima última semana do, agora apenas vosso, inter-rail! :’)

A Joana gosta.

O Miguel gosta.

Pois é caros leitores,

Os planos de viagem foram alterados e o blog acabou de ganhar uma enorme incongruencia!

Ja nao vamos a Dublin.

Sexta seguimos para Amesterdao, Roterdao, Londres e (nao confirmado) Glasgow.

O dinheiro ja nao chegava para Dublin. Fica para uma proxima vez!

Chegamos dia 5 e ja temos saudades!

(Miguel) – MAE: Gosto de ti como o macaco gosta de banana. E o giro disto tudo e q a unica coisa q muda aqui e a banana

MIMO: PHOTOS!

Encontramos os meus (mike) amigos (literalmente) no meio da rua AHAH.

QUE SAUDADES!

O Manel foi-se embora.

A viagem foi óptima e já temos saudades. Foste uma óptima companhia e agora vais para Erasmus.

Bom bom é que já nao vamos ter de ouvir alguem a ressonar como um helicoptero ou a fazer “mnhak mnhak” com a boca enquanto dorme (quem ja experienciou esta realidade sabe do que falamos).

Mau mau eq tudo o resto era optimo!

Beijinhos, abracos.. E BOA SORTE!

Queremos so expressar a tristeza que nos invade de, numa troca de Comboio na cidade fronteirica de Bohumin,  termos perdido o nosso bem-amado e fiel companheiro destas mais de 2 semanas de viagens … o nosso Guia “Lonely Planet Europe”.

Por mais que arranjemos outro, it won’t be the same! ;/

A estacao de Mostar tinha duas linhas. Nao tinha paineis sobre as partidas, mal tinha pessoas. Mas na plataforma encontramos dois portugueses – o Bruno e o Joao – que iam tambem para Sarajevo. Ficamos um bocado a conversa ate chegar o comboio. Ai percebemos as verdadeiras consequencias de estarmos na Bosnia: era velho, com caixilhos de madeira, macanetas antiquadas, janelas seguras por paus, os vidros tao sujos que mal se via la para fora.

Nao tinhamos espaco para viajar. Sentamo-nos nas malas, no meio do estreito corredor e assim fariamos toda a curta viagem.

Passado pouco tempo apareceu uma menina que nao devia ter mais do que 9 anos. Com os roupas todas sujas, as unhas das maos mais porcas, unhas dos pes tao grandes como nunca vi e partidas, uma banana debaixo do braco. Era infinitamente bonita, mas nao era inocente. Vinha de mao estendida e comecou a cantar, sem jeito, sem proveito. Um grupo jovem de bosnios deu-lhe uma moeda, incentivou-a a cantar e depois deu-lhe um cigarro para a calar.

Ela sentou-se ao meu lado, no chao, e fumou o cigarro todo encarando os bosnios com um olhar curioso, mas cingindo-se a invisibilidade que toda a gente lhe conferia. Tanta gente passou por nos que nem sei quantas vezes nos levantamos, mas ela nunca. Chegou o “pica” que  lhe ralhou por estar ali, mas ela respondeu lhe sem se preocupar; e por ali ficou, sentada no chao, as moedas a tilintar-lhe nas maos.

Como se nao notassem a miseria…

Depois o tal grupo pareceu-me cruel e provocador. Sacaram de umas sandes enormes e falavam alto, muito alto, enquanto a menina olhava para eles. Nao fazia um ar coitadinho, mas olhava com paciencia. La lhe perguntaram se ela queria um bocado e ela respondeu que nao; talvez por orgulho, de certeza que tinha fome.

O Bruno apareceu entao para falar connosco e acabou por pisa-la. Pediu-lhe desculpa. Pisou-a outra vez, pediu-lhe desculpa. Outra, e ela levantou-se, decidida, e foi-se embora.

Eu nao soube olhar para ela, como podia ajuda-la, como explicar-lhe que com 9 anos merece estar na escola, merece nao estar a fumar so porque lhe dao um cigarro (que nao tera sido o primeiro), que merece estar numa boa casa, num outro pais que lhe preste atencao…

Esgotou-se-me o coracao.

Joana

Quando pensava na Bosnia & Hercegovina imaginava um lugar com ar de terceiro mundo e tudo destruido. Tinha receio do que ia encontrar, sim, embora nao me tivesse informado la muito sobre o assunto. Aprendi que e sempre melhor nao criar grandes ideias sobre os lugares porque isso os torna vulneraveis.

Quando chegamos a Mostar chovia um bocadinho. Encontramos uma realidade completamente diferente da da Croacia, uma cidade sem turistas, sequer sem pessoas na rua. Era Domingo e nem prestamos muita atencao.

No caminho para a (famosa) Stari Most, nao podiamos deixar de reparar nos edificios que nos iam rodeando: fachadas esburacadas de balas inumeras, muito provavelmente disparadas ao acaso, predios com enormes crateras, talvez uma bomba atirada deste um aviao e avisos do perigo de derrocada desta ou daquela casa, geralmente de edificios trabalhados, de outras eras mais prosperas de uma cidade tao pequena.

A ponte de Mostar era das coisas mais bem enquadradas que tivemos oportunidade de ver. Sem linhas complicadas, duas pontas suspensas que ligavam margens com um ar precario mas vivido. Subimos ao minarete de uma mesquita – cada dia tenho mais respeito pela religiao – e pudemos enfim compreender a dimensao daquele simbolo. Duas etnias opostas se tinham confrontado desde lados inversos, mas nao por real tensao ou desentendimento.

Entramos numa loja e estava a passar um filme com as imagens da destruicao da ponte. O facto de haver imagens boas, recentes, capazes de testemunhar tal acontecimento fez-nos arrepiar. Afinal, esta guerra foi ha tao pouco tempo e nos tao ignorantes sobre os seus propositos e sobre as suas consequencias. Nao era so uma ponte, era a prova de uma barbaridade mal informada.

Deixamos a loja com os estomagos contorcidos e voltamos a estacao de comboio por ruazinhas nao ocidentais, com ligeiros toques arabes num local aqui, na Europa. Estranho por parecer pouco ocidental. Mas notavamos a simpatia nos olhares (e a diminuicao brutal dos precos). Era como ter viajado para muito muito longe!

Joana

Ora e so clicar!